Ratos de Porão em Maceió,
turnê do álbum Século Sinistro pelo nordeste, por que não ir? Principalmente
agora que os caras estão com um trabalho muito elogiado pela crítica especializada.
É listado entre os melhores discos não somente do segmento punk/hardcore,
mas de música extrema.
Século Sinistro é marcado
por muito peso, velocidade e riffs destruidores. Ainda apresenta letras
sólidas, coerentes, uma boa descrição e valor de registro da atual situação
social e política do Brasil.
Posso resumir o show como
impecável, destruidor, rodas power violentas. Ou ainda, descrever as
habilidades dos integrantes, como, Boca monstro na bateria; Juninho baixista
seguro e saltos cada vez mais improváveis; Jão criatividade não falta para a
criação de riffs; e por último o velho João Gordo, ame-o ou odeie-o,
agilidade no vocal e presença de palco. Enfim, toda uma gama de caricaturas já
registradas até como arte de estampa de camisa e capa de cd.
Porém, venho destacar o
profissionalismo da banda. São mais de 30 anos de existência. O nível atingido
pelos caras não é unicamente resultado da criação de músicas pesadas e velozes.
A vinda de Boca para a banda não só trouxe benefício para a bateria, mas como
gerente, produtor. Os caras têm agendas anuais consolidadas na Europa. Tocam em
diversos festivais de verão como headline, por exemplo, no Obscene
Extreme Festival, o maior festival de grind do velho continente.
A carreira hoje é bem
conduzida, administrada com inteligência. Por exemplo, ultimamente a história
da banda está sendo utilizada como produto. Os resultados são os documentários,
“Guidable” e o “30 anos Crucificados pelo Sistema”. Assim como, a figura
midiática de João Gordo, apropriada para a divulgação da banda. A música “O
sistema me engoliu”, do álbum Onisciente Coletivo, 2002, fala desta inserção do
Gordo. Caricatura ideal para ocupar espaço em uma banda punk ou um personagem
de quadrinho da revista Chiclete com Banana, do politicamente incorreto e
vivendo a margem do Sistema para se tornar um ícone da cultura jovem-pop.
No show, entre os
intervalos para respirar, explicou João Gordo, “somos uma banda de idosos, já
não temos fôlego. [...] Temos a idade de sermos pais da maioria de vocês aqui”.
Houve muita interação com o público pegando na mão e pausas para fotos. E no fim da apresentação os caras cederam
espaço para receber uma parte do público no camarim para fotos, autógrafos e
conversar. Acredito que seja resultado da assimilação das características do
entretenimento que estão inseridos.
Por fim voltei para casa
satisfeito e aguardando agora o show do Olho Seco em junho.
Foto/Texto: Décio Filho