Em uma data histórica, 7 de setembro de 2014, dia da
Independência do Brasil, foi a vez de Salvador, Bahia, receber um dos shows da
turnê Sul-americana do Cavalera Conspiracy. Noite fria e chuvosa do domingo,
fui ao evento com o objetivo de ver os irmãos Max e Iggor, tocando novamente
juntos na capital do Estado e no País. Em frente a casa de show, The Hall, por
volta das 19hs, já era possível observar um bom público aglomerado, não só da capital,
mas também de cidades do interior. A galera foi chegando aos poucos. Muitos
permaneceram do lado de fora, preferindo a cerveja mais barata e a audição dos
sons dos carros que tocavam quase que unânimes álbuns das fases iniciais do
Sepultura. Assim só entrando por imposição da chuva que começou a despencar,
por volta das 20hs, consequentemente não viram a apresentação da banda de
abertura, Capadócia, metal, do ABC paulista.
Por volta das 21hs é a hora do Cavalera, o sexto show, o
terceiro consecutivo, da turnê que começou no dia 31 de agosto em Brasília. A
aparição de Max Cavalera o leva a uma recepção calorosa, com gritos, aplausos e
punhos ao alto. “E aê Salvador!” “Vocês estão prontos para detonar esta
porra?”, saúda Max a plateia. E com sua guitarra em punho manda a primeira
'Inflikted', e uma roda é formanda no meio da casa de show, que só encerrou na
última música do repertório, 'Roots Bloody Roots'. Outros destaques do setlist,
como prometido pela banda, foram as músicas da fase do Sepultura. Tocaram,
'Troops Of Doom', 'Beneath The Remains', 'Inner Self', Arise, 'Desperate
Cry', 'Refuse/Resist', 'Territory',
'Atittude', 'Orgasmatron' e 'Roots
Bloddy Roots'. Ainda foram apresentadas duas músicas novas, 'Bonzai kamikaze' e
'Babilonium Pandemonium', do terceiro álbum “Pandemonium” que será lançando em
novembro deste ano. Como participação, Richie Cavalera, filho de Max, dividiu o
vocal em 'Black Ark'.
É evidente as
limitações físicas de Max, estas decorrentes do ciclo da vida, das sequelas da
rotina pesada das turnês somada ao consumo de algumas drogas, principalmente a
época do Sepultura. A voz não é mais a mesma. Há dificuldades de impor o vocal
grave e rasgado, que o consagrou no Sepultura. Entretanto, a sua experiência e
genialidade o conduz aos atalhos, enfrentando todas as limitações. O velho Max
demonstrou um total espírito jovem. Se preocupou com a qualidade do som e em
comunicar com o seu público. Ele tava em casa, queria falar com os seus, não
poupou o português, “Vamos aê salvador”, “Grita aê!”, “Como vocês estão”,
“Canta mais alto!”. Era visível a satisfação em tocar, faixa por faixa do
repertório.
Por fim, o show superou as minhas expectativas a qual o fato
de ver os irmãos Cavalera pela primeira vez já seria satisfatório. Vi um Max com
bastante disposição e bem à vontade. A The Hall me surpreendeu também, uma
ótima casa de show, com um bom palco e acústica. Eu tava ali vendo os caras
detonando tudo. Um sonho de adolescente realizado. Sai do evento com plena
convicção que ainda teremos muito mais trabalhos de Max e Iggor Cavalera pela
frente.
*Décio Filho é arquivista e colaborador do eventual blog.
Fotos: [https://www.facebook.com/decio.filho.58]